domingo, 13 de dezembro de 2015
"Ozimândias", de Percy Shelley.
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Poema para depois do Ano-novo
Tudo acabou sem nem sabermos como:
o que resta é um sabor amanhecido
na boca a anunciar o fim do pomo
e a amarga sensação do não ter sido.
Mas sei que, se cruzarmos nossas tardes
nalguma esquina ou bar, bem mais afins que
no passado, desviando o abrupto olhar
de espanto, o Amor dará dentro do peito
— o mais novo concerto de Stravinsky —
um grito de ódio a tudo o que é perfeito.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Placebo
Eu vou rimar rimando em rima rica,
Rimar rimando em rima rara eu vou,
Porque rimar em rima rara é pica,
Porque rimar em rima rica é show.
Queres compor? Eu já te dou a dica;
Queres compor? Amigo, te prepara:
Não rimes rima que não seja rica,
Não rimes rima que não seja rara.
Se for soneto, então, rima no embalo,
Pois não rimar é como não ter rima
E não ter rima é como não rimá-lo;
Mas lembra, meu amigo: ou rica, ou rara.
Adoça bem a péssima vindima
Que a falta de sabor não se repara.
domingo, 13 de setembro de 2015
Um soneto escarrado.
09 / 2015
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Três impressões do Tempo.
sábado, 25 de julho de 2015
A uma poeta morta
não é porque não sabes meu nome
que não sabes quem sou:
cantas como ninguém meus malmequeres,
pintas como ninguém os meus ocasos.
tua Palavra
é como um flash-
-back, um sopro de vida
embolorado no vão do teto
que salta à vista
quando procuro o céu.
é como se passasses discretamente com teu cigarro
e eu mal pudesse ver teu rosto,
mas logo sentisse o rastro de fumaça sufocante se alastrar,
o rastro dessa matéria sufocante
que me engole todo
de dentro para fora.
07 / 2015
terça-feira, 7 de julho de 2015
sábado, 4 de julho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
Da trolldução + Soneto 116 de Shakespeare.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
música popular
palavra incerta
corrente
que liberta
palavra estranha
montanha
não má escalada
palavra à toa
mestiça
flor-de-lis, boa
palavra minha
que em linha
não vale nada:
se canta ou grita
palavra, ide
seja bem dita
só leva multa
quem não transgride
a norma culta
sábado, 6 de junho de 2015
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Boutique
Papai me diz que a Vida é coisa amarga
que arde a garganta e nunca mata a fome,
mas que é pra eu não chorar e beber tudo.
Engulo-a, e, por mais que a Vida arda,
meu papai – porque sou o filho homem –
não quer jamais que eu beba de canudo.
06 / 2015
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Eco
05 / 2015
terça-feira, 28 de abril de 2015
Cinco poemas de William Blake.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Ars Poetica
Vede, escrever sonetos não é difícil:
Lançai-vos mão de olhar atento, e basta.
O metro vos assusta? É arte gasta,
Menor dos males neste ousado ofício,
Pois tanto o artista a mesma pedra engasta
Que se acostuma; e, como nem mais visse o
Projeto, erige o décimo edifício
Dos cem que hospeda no interior da pasta.
Falai de amores, dores e de musas,
Do quanto a morte é bela, e a vida, inglória;
Palavras? Escolhei as mais confusas;
A rima? Seja rara; o fecho? Escore-a;
E eis o soneto: as pompas vêm inclusas!
Mas, vede, poesia é outra história.
terça-feira, 14 de abril de 2015
"Pássaro Azul", de Bukowski.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Biographia Literaria
Conto dezenove
com cara de trinta.
Dois anos na estrada.
No bolso direito, carteira vazia;
no esquerdo, um pedaço de alma
surrado, mofado
que levo de mimo.
Nos olhos,
o chão que enraízo
nas lentes,
o céu que desprezo
entre eles,
o beco onde residem as ideias brutas.
Trago o melhor da Poesia Crássica
Ultrarromanca
feito um monge cuja mão, trêmula da idade,
não acompanha o pensamento
e se deixa levar por intempéries do desejo.
Alguém leu meus versinhos de angústia
e julgou por bem dizer: "esse é poeta!"
(mas se soubessem dos sorrisos que escondo atrás das dores,
certamente não me chamariam poeta.)
04 / 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
Testamento
não quero horror no processo,
quero tampouco alegria;
não quero a vida passando
por meus olhos como um filme;
que ali meu drama se encerre,
e a trama guarde quem viu-me
quando o meu riso era fácil,
quando o meu choro, contente;
fiquem com a parte da história
em que o poeta ainda sente.
Quando eu vier a morrer
(e pode ser amanhã),
quero ouvir o silêncio
sobreposto à prece vã;
e, vindo a dor, que eu padeça,
não chore a perda, no entanto:
se a vida não vale a pena,
a morte não vale o pranto.
Quando eu vier a morrer
(pode ser hoje, quem sabe),
que o mundo aprenda comigo
e se conforme, e se acabe;
que eu sinta o sopro da noite,
que eu sinta a brisa da aurora
uma vez mais, com desdém,
para - impassivo - ir embora.
Querem saber? Morro agora
e disso não me arrependo;
se perguntarem por mim,
digam que morri vivendo.
Descrença
fitando o chão (que o céu lhe dá vertigem),
desanda o choro em voz penosa e fraca.
Diz ele: "Ó céus, bem sei como hei pecado,
como estas mãos pusera em mau caminho;
perdoai-me, ó Pai; e, ó Mãe, pousai em mim
o vosso pio olhar! Eis o meu fado:
fazei o que quiserdes dele!" E erguidos
os braços numa cruz imaginária,
procura as mãos de Deus, procura ouvir
do santo a doce voz — mas vê o altar,
e a sacra imagem crava-lhe uma densa
feição de angústia e de total descrença.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Versos inscritos em um tronco tombado
Não sou rapaz de fitar o infinito
e caçar humanismos nas estrelas:
só contemplo o céu noturno para vestir pequenez.
Às almas tortas falta olhar o chão.
Nada é tão interessante quanto o cio das borboletas.
Um escarro vale mais que um cometa:
o filho do homem cuspiu na terra e fez brotar visão.
Mais que asas de cera,
a humanidade carece de olhos de barro.
Nisso de ouvir o céu eu não me encaixo.
Deus para mim
só no andar de baixo.
Viver como vive o inseto à vista alheia
momentos antes de abraçar a morte:
nem seu último espasmo verte despedida.
Dar à vida o charme de um sonho erótico
do qual se desperta
sem nenhuma recordação.
02 / 2015
sábado, 14 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
domingo, 25 de janeiro de 2015
Três verbetes rejeitados
1. Humanidade:
enorme espelho estilhaçado
cuja natureza primária é distorcer o objeto real
seja lá qual for; ou
dicionário de uma só palavra
e incontáveis (in)definições.
2. Poeta:
estilhaço menor
manchado de terra
e cansado de refletir senão a terra; ou
interjeição profana
banida pelos bons costumes.
3. Poesia:
música gerada no baque de uma pedra
sobre o espelho sujo de mundanices; ou
gemido que se produz no momento
entre a pergunta
e a ausência de resposta.
01 / 2015
sábado, 17 de janeiro de 2015
Autonegação
nisso de amar o quanto me cative:
se a lira é doce ou por demais felpuda,
em direção contrária o peito rema.
Mentindo é que o poeta sobrevive.
[o que talvez inclua este poema]
01 / 2015
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Era um poema de amor
desses que surgem do acaso,
como batom no concreto.
por que se deu logo ali?
Eu lhe pergunto, e silêncio.
Talvez nem ele saiba
[só resta a marca do beijo,
a marca: nem falo ou vulva,
nem lábios importam mais]
e tão somente espere
o decair do futuro,
para esquecer o poema,
para esquecer que foi muro.
01/2015
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Sonho
Olho-te o corpo nu como um tesouro aberto,
E olhas por mim, como um Satã sereno —
Acordo! Esvai-se o sonho, e encontro-me desperto
Buscando o teu veneno...
As mãos procuram tudo à escuridão da noite
E nada encontram, salvo a própria sombra.
Tão logo vais embora, açoite após açoite,
O mundo se me escombra...
O peito, em choque, abraça a solidão do quarto.
A madrugada em derredor se aviva
E rompe os meus vitrais como um terrível parto
E escorre igual saliva...
E lembro-me de ti, do sonho inalcançado
Que contemplei como o poeta à lua:
O olhar lascivo, o sangue em gozo embalsamado,
A carne exposta e crua...
Decido pôr em verso o teu retrato ausente:
Mordaz, a pena as emoções me arranca
E esboça um vil sorriso, escrito amargamente
Na folha escura e branca.
Busco uma vela; acendo-a. A luz, covarde e fria,
Em nada se compara à flama que és.
Apago-a de uma vez: bem mais me aqueceria
Prostrasse-me aos teus pés...
Escuto a negritude a me cantar, calada,
Tua lembrança em melodias quérulas;
Decido, então, caçar essa ilusão finada
Como quem caça pérolas...
Retomo da ilusão reminiscência pouca:
Nem teu perfume eu pude mais sentir;
Sequer minh'alma à tua, a minha à tua boca
Eu pude mais unir...
Tão só, na infinda noite, o peito se consome,
E range o crânio dentro da cabeça;
Me atiro à treva, e, louco, a murmurar teu nome,
Imploro que amanheça!...
E, quando, finalmente, ao sono me condeno
E toda a angústia julgo enclausurada, enfim,
Vejo-te nua, aos céus, como um Satã sereno,
Pousando o olhar em mim...