sábado, 15 de agosto de 2020

"O Tigre", de William Blake.

 
THE TYGER


Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand, dare sieze the fire?

And what shoulder, & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
 

 

O TIGRE


Tigre, Tigre, que fulguras
Pelas florestas escuras;
Que olhar ou mão poderia
Moldar tua atroz simetria?

Em que altura ou profundeza
Tua chama ardeu acesa?
Com quais asas ele assoma?
Com que mãos o fogo doma?

E qual músculo, e qual arte
Soube os tendões entrançar-te?
E ao palpitar teu coração,
Que atros pés? E que atra mão?

Com qual malho? Com que malha?
Teu cérebro, em que fornalha?
Qual forja ou garra sobeja
Seu mortal terror maneja?

Quando os astros dardejaram
E o Céu com lágrimas regaram,
Vendo ele a obra, se alegrou?
Criou-te quem ao Cordeiro criou?

Tigre, Tigre, que fulguras
Pelas florestas escuras:
Que olhar ou mão ousaria
Moldar tua atroz simetria?


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Moenda


A brasa de teus pés em descaminho,
o chão lavrado a golpes germinais,
o arranque dos motins e dos metais
e as mãos fabris, febris, com que, sozinho,
engrenaste o motor das capitais;
na utopia do verbo — novo ninho
a embalar os errantes teus ideais —,
o trigo que plantaste fez-se moinho,
e fez-se mosto-flor teu sóbrio vinho,
e teu açúcar, sol de canaviais.
O homem além do pai — também assim
o verbo além da voz diz muito mais —
e além do filho, em nós crescendo. Mas
se a memória é esse engenho em desalinho,
invisíveis remendos, vendavais,
de ti nada dirão palavras tais.
É no silêncio teu que te adivinho:
seiva na carne de profundo espinho,
sombra cingindo azuis dominicais.