domingo, 13 de dezembro de 2015

"Ozimândias", de Percy Shelley.




Proponho aqui duas versões do famoso soneto inglês: uma em decassílabos e outra em dodecassílabos, salvo pela inscrição na estátua, que em ambas verti como um dístico à parte da estrutura geral do poema.

05/03/17: Alterações na versão decassilábica, nos versos 6, 7, 8 e 11. Anteriormente, liam-se: Mostram que se esculpiu cada paixão/ Tão bem, que a árida rocha ali se fez/ Maior que o intento do escultor, e a mão. (...) Desesperai-vos ante o meu legado!"

***

OZYMANDIAS


I met a traveller from an antique land
Who said:—Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter'd visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp'd on these lifeless things,
The hand that mock'd them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
"My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!"
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.


OZIMÂNDIAS 
(traduzido em decassílabos)


Conheci um viajor de antiga terra
Que disse: — Há no deserto um par de vastas
Pernas pétreas, e, junto, a areia encerra
Um destroncado rosto, cujas gastas
Torções do lábio e gris feição de guerra
Mostram: cada paixão tão bem se urdira
Que sobrepuja, impressa na aridez,
Mão que a lograra e seio que a nutrira.
E sobre o pedestal se vê gravado:

Meu nome é Ozimândias, rei dos reis:
Tremei, ó grandes, ante o meu legado!

Nada mais resta: o escombro que se alteia
Ante o deserto liso e ilimitado
Se estende a sós na imensidão de areia.


(traduzido em dodecassílabos*)


Ouvi de um viajante de uma antiga aldeia:
— Duas pernas de pedra vastas e sem tronco
Há no deserto, e, próximo a elas, jaz na areia
Um rosto espedaçado, cujo aspecto bronco,
Franzido o lábio e ufano o riso, delineia
O triunfo do escultor, que tais paixões bem lera,
Prevalecendo, assim, impressas na aridez,
Ao seio que as nutrira e à mão que escarnecera.
E sobre o pedestal pode-se ver gravado:

Meu nome é Ozimândias, rei dos reis:
Curvai-vos todos ante o meu legado!

Nada mais resta: em torno ao palco derradeiro
De escombros colossais, chão liso e ilimitado,
O deserto se estende ao horizonte inteiro.


*Originalmente publicado no escamandro.



12 / 2015