sábado, 9 de março de 2019

Elizabeth Browning à Portuguesa


Depois de ler o brilhante ensaio do Elaphar sobre a poeta vitoriana, saí coçando para mexer em alguns versos já há muito na pasta de poemas por traduzir. Disso, segue esta versão mais ou menos fiel do primeiro dos "Sonnets from the Portuguese".


I

I thought once how Theocritus had sung
Of the sweet years, the dear and wished-for years,
Who each one in a gracious hand appears
To bear a gift for mortals, old or young:
And, as I mused it in its antique tongue,
I saw, in gradual vision through my tears,
The sweet, sad years, the melancholy years,
Those of my own life, who by turns had flung
A shadow across me. Straightway I was ’ware,
So weeping, how a mystic Shape did move
Behind me, and drew me backward by the hair;
And a voice said in mastery, while I strove,—
“Guess now who holds thee?”—“Death,” I said. But, there,
The silver answer rang,—“Not Death, but Love.”



1

Pensando em como Teócrito cantara
Os anos, doces e anelados anos,
Que vêm, afáveis mãos, dar aos humanos
Velhos ou jovens sua joia rara:
Dessa língua que há muito se calara,
Vi emergir em meio a desenganos
Os doces anos, merencórios anos
De minha vida, onde uma sombra amara
Se projetou. Em prantos percebi
Mística Forma atrás de mim se pôr,
Pelas mechas puxar-me para si;
Em tom de mando ouvi, com estupor:
"Quem te possui?", "A Morte", respondi,
E a argêntea voz ressoou: "Não Morte — Amor."

sábado, 2 de março de 2019





O príncipe pastor, a quem Cronida
Sob as asas possuíra e aos céus trouxera
Para deitar o néctar que exaspera
E em rubros haustos decantar a vida,

Vendo no copo a imagem refletida
Como se eterna visse a primavera,
Ante o brado colérico de Hera
Quase transborda a esplêndida bebida:

"É morto o Pai", acusa a irmã consorte,
"Por teu vinho mortal envenenado,
Troiano efebo." E, retesando o porte

A Zeus tão caro, o dócil Ganimedes:
"Na arte do Amor — se em tudo o mais me excedes —
Convém saber usar e ser usado."