A Manoel de Barros.
Não sou rapaz de fitar o infinito
e caçar humanismos nas estrelas:
só contemplo o céu noturno para vestir pequenez.
Às almas tortas falta olhar o chão.
Nada é tão interessante quanto o cio das borboletas.
Um escarro vale mais que um cometa:
o filho do homem cuspiu na terra e fez brotar visão.
Mais que asas de cera,
a humanidade carece de olhos de barro.
Nisso de ouvir o céu eu não me encaixo.
Deus para mim
só no andar de baixo.
Viver como vive o inseto à vista alheia
momentos antes de abraçar a morte:
nem seu último espasmo verte despedida.
Dar à vida o charme de um sonho erótico
do qual se desperta
sem nenhuma recordação.
02 / 2015