segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Soneto 130 de Shakespeare.



CXXX

My mistress’ eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lips’ red;
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.

I have seen roses damasked, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.

I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound;
I grant I never saw a goddess go;
My mistress when she walks treads on the ground.

And yet, by heaven, I think my love as rare
As any she belied with false compare.



130

São seus olhos da luz do sol alheios;
Seus lábios, que o coral bem menos rubros;
Se alva é a neve, pardos são seus seios;
Se fios cabelos, negros fios descubro-os;

Vejo alvas, rubras, damascadas rosas,
Mas rosa alguma em sua tez se acende;
Certas fragrâncias são mais deleitosas
Que o hálito que dela se desprende;

Amo ouvi-la falar, porém bem sei
Mais aprazível ser qualquer canção;
Deusa que andasse, nunca divisei;
Ela, ao passar, detém os pés no chão.

E, no entanto, por Deus, acho-a tão rara
Quanto aquela que a enganos se compara.

domingo, 19 de agosto de 2018


A dissonância fermata
onde o silêncio
começa

— Até as nuvens
aqui
têm pressa

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Em ocasião do dia dos pais


Quando a primeira vez o teu caderno
De sonetos abri, meu pai amado,
Pude ouvir o teu canto levantado
Como catorze braços para o Eterno;

E, outrora tão lacônico e sagrado
(Pois na quietude dá-se o amor paterno),
Tão mais humano fez-se, tão mais terno,
O homem que o lia, tímido, ao meu lado.

Tu me ensinaste o verso e, nele, a vida,
A paixão sufocada e a prece muda,
A acre esperança e a lágrima contida.

Tu me tornaste, pai, quem sou agora:
Esta voz que em silêncio se desnuda
Para aplacar um coração que chora.