Em precisão de metáfora,
visitar uma olaria,
ofício que se debruça
nas concordâncias da argila;
ofício, sim, de destreza,
mas sobretudo de fibra,
de espalmar a massa bruta
como quem a amolaria.
Lubrificar o motor
que a matéria desfibrila
dando sentido ao seu eixo,
dorsal de vento, cacimba;
e como quem se emudeça
no assombro da coisa mínima,
ver a engrenagem da terra
em florescência centrípeta.
Mas no ponto de intumescer-se
afim aos ciclones e aos tigres,
às espirais da natureza
que petrificam a retina,
talhar o bronze latente
das divindades possíveis
com a perícia dos dedos
que a pedra do tempo afia.
Cerce trespassar o nylon
a combustão circunscrita
entre o torno e o corolário
e a novo sono induzi-la;
e porque enfim se preserve
a carnadura do giro,
na noite muda do forno
selar a roda do dia.
E a despeito da incumbência:
vaso, cumbuca ou manilha,
entender que de processo
é que se faz a olaria,
nem tem fim esse mister
que tampouco principia
— e que da morna cerâmica
à massa bruta e sanguínea
a argila é mero pretexto
para outra, oculta oficina.