quarta-feira, 6 de maio de 2020

Epílogo


Pensávamos que amar fosse a razão
do amor: luz que roçasse a incorpórea
face dos dias, áspera canção
de extintas línguas na alma da memória;

e, qual vidro fendido que se inflame
na sanguínea visão crepuscular,
mostrou-se amor incandescente lâmina
sobre a carne translúcida do amar.

Pensávamos que a morte fosse apenas
um calar-se maior que todo o ser,
e ela gritou nas coisas mais pequenas,

tão pequenas, porém, que mal ouvíamos:
mal sabíamos dela, e o que sabíamos
pensávamos, pensávamos saber.