Pétalas sobre um galho úmido
e negro: um farfalhar,
e nada sobra, salvo um duro
desejo de durar.
Rompantes, raiam as cigarras
pelos troncos: a fibra
sedosa do ocaso, num rasgo,
dá que outra toada vibre,
outra: não o irrequieto estrídulo
da seiva subterrânea
aberta ao mundo; mais acídula,
oca e sólida — crânio
que à terra jamais se resigna —
outra eclode, mais muda
cantiga, presa, de resina,
ao pife que a modula.
Há muita música, excelente
voz vibrando escondida
nesse oco instrumento (por entre
serragens de sentido
e raspas mais de quintessência
que porventura fiquem
passada a ecdise, no silêncio
eloquente do líquen),
e acaso irrompam as cigarras
invisíveis, que tingem
a fibra sedosa do ocaso
de cobre, teso timbre,
alheias, quase troncos, não
sucumbirão ao próprio
eco e rebento, estas que são
matriz e fruto peco.
Vida, memória, flor num muro
fendido: ser o estar.
Nada mais resta, salvo o duro
desejo de durar.