A brasa de teus pés em descaminho,
o chão lavrado a golpes germinais,
o arranque dos motins e dos metais
e as mãos fabris, febris, com que, sozinho,
engrenaste o motor das capitais;
na utopia do verbo — novo ninho
a embalar os errantes teus ideais —,
o trigo que plantaste fez-se moinho,
e fez-se mosto-flor teu sóbrio vinho,
e teu açúcar, sol de canaviais.
O homem além do pai — também assim
o verbo além da voz diz muito mais —
e além do filho, em nós crescendo. Mas
se a memória é esse engenho em desalinho,
invisíveis remendos, vendavais,
de ti nada dirão palavras tais.
É no silêncio teu que te adivinho:
seiva na carne de profundo espinho,
sombra cingindo azuis dominicais.