segunda-feira, 15 de maio de 2017

Pietà

("Madonna dos Lírios" e "Pieta", Bouguereau)


À minha mãe.

Morre Cristo. De sangue e lágrimas coberto,
Dorme sobre o Calvário à nona hora do dia;
Por três cravos suspensa, a Carne que tremia
Cessa o tremor enfim, e o Espírito é liberto.

"Por que me abandonaste, ó Pai? Por quê?", gemia
Pouco antes de expirar, havendo o seio aberto
Aos vagalhões do oceano e à aridez do deserto.
Sem resposta do Céu, chorou. E eis que Maria,

Ao ver o Cristo em sangue e lágrimas desfeito,
De pronto suplicou: "Senhor, dá-me essa cruz;
Dá que eu - Não Ele! - arraste o mundo junto ao peito!"

E entre o escárnio da terra e o divinal exílio,
Clamou em desalento o nome de Jesus,
Que, antes de Redentor e Deus, era seu filho.



05 / 2017

09 / 06 / 2017: Acabo de descobrir que meu soneto "Pietà" foi lido e publicado por ninguém menos que Roberto Mallet. Muito feliz com a surpresa e com a atenção ao poema. A leitura está belíssima.