A gata carrega a mariposa entre os dentes,
efêmero troféu daquela tarde.
Cruza o quintal graciosamente,
da garagem vazia aos galhos secos da horta,
cuspindo no concreto
essa que debalde bate as asas,
as alvas asas retalhadas.
E basta uma patada
para tê-la outra vez submissa,
pétala branca no veludo negro,
ora retida em agulhas de marfim,
ora cuspida, arrastada, mascada,
até ser impossível distinguir
a presa
das presas que a retêm.
Na tarde aos poucos deglutida,
não há rancor nem escárnio
(uma finge não saber que está matando,
outra finge não ver que está morrendo):
há somente a Beleza,
luz maciça e autofágica.