domingo, 6 de agosto de 2017

Ao aniversário de Alfred, Lord Tennyson (1809–1892)




Hoje, 6 de agosto de 2017, completam-se 208 anos do nascimento de Alfred Tennyson, um dos mestres da língua inglesa, que em vida gozou de imenso prestígio, sendo porém negligenciado pelas escolas literárias que o sucederam. É quase como o caso do Parnasianismo no Brasil: depois de quase um século da Semana de 22, há que se fazer uma leitura livre de preconceitos, para o bem ou para o mal, das pérolas que se escondem nos parnasianos; faz-se mister, em uma literatura que clama por autoras, redescobrir Francisca Júlia. Mas enfim, voltando a Tennyson. 
Poucos são os que verdadeiramente se debruçam sobre a língua materna e exploram suas nuances da maneira mais meticulosa possível. Tennyson foi um deles: poeta de ouvido apuradíssimo, experimentador das mais diversas formas poéticas (basta ao leitor comparar obras como "The Lady of Shalott", "The Charge of the Light Brigade", "Locksley Hall" e "Tithonus", as duas versões); homem cuja vida fora acometida pelo mais profundo pesar, dada a morte prematura de seu melhor amigo, Arthur Hallam, a quem dedicou todos os 133 cantos de seu In Memoriam; artesão comedido e calculista, alheio ao furor romântico, seguindo talvez a premissa de Wordsworth, a quem sucedeu como Poeta Laureado: "Poetry is the spontaneous overflow of powerful feelings: it takes its origin from emotion recollected in tranquility."
Decidi lhe fazer uma pequena homenagem traduzindo um de seus mais famosos poemas, "Tears, Idle Tears". Não me recordo de outra tradução que tenha mantido os versos brancos e até entendo por quê: é praticamente impossível vazar em decassílabos o alto nível das descrições feitas pelo poeta, de formas que uma versão livre soa bem mais sedutora. Minha ideia, no entanto, era me aproximar o máximo possível da técnicas do Barão, a começar pela métrica, buscando as soluções mais adequadas que satisfizessem tanto o ritmo quanto a sonoridade. Reconheço que muito se perdeu em minha versão, mas em se tratando de um poeta tão pouco traduzido, acredito haver aí mais ganhos do que perdas.

***

TEARS, IDLE TEARS

Tears, idle tears, I know not what they mean,
Tears from the depth of some divine despair
Rise in the heart, and gather to the eyes,
In looking on the happy Autumn-fields,
And thinking of the days that are no more.

Fresh as the first beam glittering on a sail,
That brings our friends up from the underworld,
Sad as the last which reddens over one
That sinks with all we love below the verge;
So sad, so fresh, the days that are no more.

Ah, sad and strange as in dark summer dawns
The earliest pipe of half-awaken'd birds
To dying ears, when unto dying eyes
The casement slowly grows a glimmering square;
So sad, so strange, the days that are no more.

Dear as remember'd kisses after death,
And sweet as those by hopeless fancy feign'd
On lips that are for others; deep as love,
Deep as first love, and wild with all regret;
O Death in Life, the days that are no more!


*

LÁGRIMAS VÃS

Lágrimas vãs, mal posso compreendê-las:
Do cerne de uma angústia divinal
Brotam no peito e atracam-se nos olhos
Ao contemplar do alegre Outono os prados
E relembrar os dias que se foram.

Puras qual luz da aurora sobre a vela
Que os amigos do pélago resgata,
Tristes qual luz extrema, que enrubesce
O naufrágio de tudo quanto amamos;
Tristes, puros, os dias que se foram.

Ah, estranhas, tristes como em turva aurora
O débil trino de aves sonolentas
A ouvidos moribundos, quando a vista
Ao moribundo olhar é um quadro fosco;
Tristes e estranhos dias que se foram.

Caras, qual beijo que resista à morte,
E doces, como o fantasiado em lábios
Dados a outros; pungentes como o amor,
Como o primeiro amor e seu remorso.
Ó Morte em Vida, os dias que se foram!