CATAR FEIJÃO
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
2.
Ora, nesse catar feijão, entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quanto ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
PICKING BEANS
Picking beans borders on writing: first, you scatter
the seeds into the water in the clay bowl
and words onto that of the sheet of paper;
then, you toss away the ones that float.
True, every word shall float on the paper,
a sheet of frozen water, though lead its name:
in order to pick beans, to blow on them,
and toss the slight and hollow, echo and haulm.
2.
However, bean-picking comes with a risk:
that there remains, among the heavier beans,
whatever stodgy grain, gravel or debris,
an unchewable grain, tough for the teeth.
As for picking words, not true at all:
the gravel grants to the phrase its liveliest seed:
it clogs the reading fluviating, fluctual,
it tempts the attention, brisks it with the risk.