Um pássaro translúcido se esfola
no asfalto de meus olhos arredios,
e cede o azul motor à contramola
da poça em que, por me esquivar, meti-os.
Não basta erguer a vista, nem consola
rememorar a ossada dos estios:
como extrair do pássaro a gaiola?
Como forjar os seus metais bravios?
Como, entre fráguas, infundir-lhe o bálsamo
devido? Como, se, a negar-me o voo
e a luta, a muda voz dos astros alça,
moroso, aos céus — E o céu, morosamente,
crava nos olhos sob os quais sangrou
uma rosa tardia, indiferente?
terça-feira, 24 de março de 2020
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