segunda-feira, 28 de maio de 2018


Minha voz, tão leve e rouca,
se de voz posso chamá-la,
minha voz não fala:
caminha.

Minha voz, tão breve e pouca,
sem potência nem compasso,
treme sobre o traço
da linha.

Minha voz sem verve, coxa,
ante o coro não se espanta:
cala; escuta; e canta,
sozinha,

dos pulmões ao céu da boca,
todo um infinito mudo.
Nada é, contudo
é minha.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Um soneto de Olavo Bilac para o inglês.




Exercitando a via contrária da tradução, verti o soneto "Língua Portuguesa", de Olavo Bilac, para o inglês. Uma boa maneira de aguçar a sensibilidade ao outro idioma, na maioria das vezes de partida e não de chegada. 
Traduzi os decassílabos em pentâmetros iâmbicos, mantendo um esquema de rimas próximo do original, embora, infelizmente, não tenha conseguido preservar as mesmas rimas nos dois quartetos. Ainda me sinto um brutamontes manejando o inglês, mas de um modo geral o resultado me agradou, e espero que também ao leitor mais sensível às nuances da língua inglesa. 



LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


***

Last flower of the Latium, wild and sweet,
Thou art, at once, both sepulture and splendour:
Hidden in slag, a gold of native grandeur,
Which crude mines veil among the muddy grit...

I love thee as thou art: obscure, unknown,
O tuba of roaring clanks, O lyre warm,
Who hast the hiss and rumble of the storm,
And so the lull of tender things long gone!

I love thy wild luxuriance and thy scent
Of oceans deep and uninvaded isles!
I love thee, Tongue of bruteness and lament,

In which I heard from mother's lips: "my son!",
In which Camões once mourned, through dark exiles,
His wretched fate and heart that never sung!